Economia

Número de internautas no Brasil alcança percentual inédito, mas acesso ainda é concentrado

Quantidade de pessoas conectadas no ano passado era de 85,9 milhões, mostra principal levantamento nacional sobre o tema

RIO — O número de usuários da internet passou de metade da população brasileira pela primeira na vez. Em 2013, os internautas somaram exatos 51% dos cidadãos com mais de 10 anos de idade, ou 85,9 milhões de pessoas. Entre os principais fatores que contribuíram para o marco inédito estão o aumento exponencial no uso de celulares para conexão com a rede e a multiplicação de equipamentos portáteis, como notebooks e tablets. É o que indica a nona edição da pesquisa TIC Domicílios, divulgada ontem pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br). No entanto, algumas disparidades sociais e regionais permanecem como obstáculos a uma inclusão digital mais profunda.

Tido como um dos principais levantamentos sobre o uso e acesso de tecnologias de comunicação e informação (TICs) no país, o estudo foi realizado entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, em mais de 16 mil residências espalhadas por 350 municípios brasileiros. Órgão responsável pela elaboração da pesquisa, o Cetic.br é ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que implementa os projetos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

O índice inédito leva em conta os brasileiros que acessaram a internet ao menos uma vez por trimestre, frequência que é parâmetro internacional para classificar alguém como usuário da rede. O crescimento segue uma curva já observada em levantamentos anteriores: de 2011 a 2012, a parcela de internautas pulou de 45% para 49% da população.

Celulares são porta de entrada para 31%

Cada vez mais presentes no dia a dia dos brasileiros, os aparelhos celulares foram cruciais no salto. Nos últimos dois anos, a proporção dos usuários da rede por meio de smartphones mais que dobrou, passando de 15%, em 2011, para 31% do total em 2013. Ou seja, dos 143 milhões de usuários de celular registrados no ano passado, um contingente equivalente a 85% da população com 10 anos ou mais, 52,5 milhões dispunham de conexão móvel.

O produtor editorial Fabrício Fuzimoto, de 27 anos, é um dos brasileiros que têm no smartphone uma das principais portas de entrada para a rede. Em casa, no trabalho ou na rua, ele quase não se desliga do aparelho para acessar redes sociais, conversar com amigos via mensageiros e baixar jogos.

— Tenho usado tanto que já estou atrás de uma franquia maior. Hoje, meu limite é de 300 MB, mas já não está dando para o uso que faço. Como não posso ficar sem acesso à rede na rua, já que uso o telefone para tudo, o jeito vai ser trocar de plano — afirma Fuzimoto, que mora em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e trabalha no Rio.

Coordenador da TIC Domicílios 2013, Winston Oyadomari afirma que o patamar de internautas inédito no país é motivo de comemoração, mas deve ser visto com alguma cautela:

— Sem dúvida, o número de usuários da internet do país é expressivo e importante. Se olharmos de 2008 para cá, o salto foi de quase um terço da população para mais da metade dela. No entanto, é preciso chamar atenção para algumas disparidades que permanecem: a distância entre o acesso em determinadas classes sociais e regiões ainda é muito grande. E ela vem se mantendo, não diminuindo.

De fato, enquanto, nas classes A e B, a proporção de casas com acesso à internet é de 98% e 80%, respectivamente, na classe C é de apenas 39%. Já nas classes D e E, a penetração da rede é de só 8%. E a desigualdade também é espacial: nas áreas urbanas, a proporção de lares conectados é de 48%, enquanto que nas rurais chega apenas a 15%. Ou seja, se, nas cidades, a internet alcança 25,9 milhões de lares, no campo o número de residências conectadas não passa de 1,3 milhões.

As regiões Norte e Nordeste também permanecem como as menos conectadas, com uma proporção respectiva de 26% e 30% de lares com acesso à rede. Na região Sudeste, a de maior penetração, a internet alcança 51% das residências.

— O fato de mais da metade da população brasileira ser internauta não significa que o Brasil está cada vez mais conectado como um todo. Espero que esses indicadores chamem a atenção das empresas de tecnologia. Existe um amplo mercado ainda não contemplado por elas. E o governo tem de desenvolver políticas públicas efetivas para a diminuição dessas diferenças — prega Winston.

Em relação ao perfil dos usuários, os jovens continuam a ser os mais conectados: 75%, entre os brasileiros de 10 a 15 anos; 77%, entre os de 16 a 24; e 66%, entre os de 25 a 34 anos. Já entre os indivíduos na faixa de 35 a 44 anos, 47% disseram fazer uso da rede. E, apesar de a parcela de usuários acima de 45 anos continuar a crescer, saltando de 39% do segmento, em 2012, para 44%, em 2013, a faixa etária ainda é a que mais tem brasileiros fora da rede: 45 milhões de pessoas.

Capitaneadas pelo Facebook, as redes sociais (com exceção do Twitter, considerado microblog) permaneceram como os sites mais usados por brasileiros, com popularidade entre 77% deles, um aumento de quatro pontos percentuais em um ano. No entanto, os serviços de envio de mensagens instantâneas e de conversa por voz apresentaram um crescimento expressivo ano passado, saltando de 59% e 23%, respectivamente, para 74% e 32% dos usuários.

Em 2013, no entanto, os microcomputadores avançaram pouco nos lares brasileiros: apenas três pontos percentuais em relação a 2012, passando a estar em 49% dos domicílios. Maior foi o crescimento dos computadores portáteis, como laptops, e, principalmente, dos tablets: enquanto os primeiros alcançaram 57% dos domicílios com computador (proporção que era de 50% em 2012), os outros passaram a estar em 12% dessas residências, índice que triplicou desde o ano anterior.

Fabrício Fuzimoto, o produtor editorial da Baixada Fluminense, faz parte da parcela de brasileiros que se tornaram donos de tablets:

— Comprei-o basicamente para usar em viagens curtas, assistir a filmes e brincar com jogos. Acaba sendo mais prático do que carregar o laptop na mochila, que agora uso só para trabalho.

Conexão discada teve salto de 7% para 10%

Quanto aos tipos de conexão usados nas residências, a banda larga fixa permanece no topo. Apesar de ter registrado queda de um ponto percentual desde 2012, ela está presente em 66% dos lares conectados. Já a banda larga móvel (modem 3G) passou a ser usada em 22% das residências com acesso à internet, crescimento de um ponto percentual. Curiosamente, no intervalo de um ano, o acesso discado saltou de 7% para 10% nas casas conectadas, com uma alta registrada sobretudo nas zonas urbanas.

Apesar de reconhecer a crescente importância dos celulares para os brasileiros, o gerente do Cetic.Br, Alexandre Barbosa, afirma que esse não é o modelo de inclusão digital ideal:

— É ótimo que os celulares estejam ampliando a inclusão digital brasileira. No entanto, melhor seria se ela se desse pelo acesso a computadores e à internet nos lares e espaços como escolas, pois isso possibilitaria um desenvolvimento melhor de habilidades mais complexas em relação ao uso de tecnologia do que as propiciadas por smartphones. As políticas públicas devem estar atentadas, pois o acesso tradicional tem influência direta no desenvolvimento econômico e social, influindo até no melhoramento da mão de obra nacional.